sexta-feira, 2 de dezembro de 2011

Mãe, compra pra mim?

A frase de título é a que eu mais escuto nos últimos 3 anos. Assim como várias mães espalhadas pelo mundo tenho um filho pequeno (5 anos) e desde que ele começou a falar e assistir televisão o negócio foi ficando interessante - aos olhos de uma publicitária e professora. 

Há alguns anos, quando foi proibido o uso do imperativo em propagandas voltadas para o público infantil, existe um movimento de adaptação das agências, anunciantes e veículos com objetivo de não perder o público. As estratégias ficaram mais inteligentes e melhor estruturadas, foram pensadas outras formas e formatos para a camunicação - saindo muitas vezes do lugar comum COMPRE o produto X ou PEÇA para a sua mãe. Pesquise mais sobre a regulamentação publicitária no Brasil no site do CONAR (Conselho Nacional de Autorregulamentação Publicitária).

Eu ainda lembro muito bem de campanhas clássicas como a do chocolate Batom - Compre Baton, Compre Baton, Compre Baton. Eu adorava e achava muito boa a ideia de hipnotizar meus pais ou avós para que eles comprassem o chocolate pro meu irmão para eu poder "repartir" com ele - ou vice-versa. 



Mas a que eu, na época, mais gostava é a antiga da tesoura do Mickey e da Minnie que era veiculada em 92! Eram dois VTs de 15 segundos e o texto se limitava a apenas uma frase que era dita várias vezes em tom de deboche: Eu tenhoooooo, você não teêeemmmm! Gente, era algo inacreditável e hoje em dia pode ser até classificado como bullying.




Depois que o João começou a ficar maiorzinho e exigir que eu assita TV com ele depois do almoço e de tardezinha, comecei a observar as estratégias e ficar maravilhada com o poder de adaptação e o aumento no nível criativo das campanhas de alguns anunciantes. O caso do chocolate Batom é, no mínimo interessante: a marca não fazia nenhuma inserção padrão de 15 ou 30 segundos no canal fechado Discovery Kids e sim um patrocínio educativo sobre a história do cacau e a forma de fabricação do chocolate com as etapas bem explicadinhas. Era uma animação muito bem feita, colorida, com as passagens rápidas pra prender a antenção das crianças. Tinha somente a assinatura do produto ao final como oferecimento. Com o mesmo conceito também foi veiculado um da Tetra Pack sobre  o caminho do leite da vaca até a caixinha.

Porém , nem tudo são flores... ainda temos anunciantes de brinquedos que fazem VTs que mostram bonecos inanimados fazendo supermovimentos, pulando, atirando raios lasers, pilotando aeronaves, lutando com alienígenas! Antes, os referidos comerciais, traziam só em lettering a mensagem "movimentos produzidos por computador". De um tempo pra cá é que essas mensagens são faladas por um locutor. Daí eu penso: provavelmente alguém da equipe envolvida na criação dos comerciais - seja por parte do anunciante ou da agência - deve ter filhos. Então pq saem campanhas tão dúbias ou que confundem o consumidor?




Uma pesquisa recente, realizada pela Universidade Federal do Espírito Santo em parceria com o Instituto Alana, revelou que mais de 60% dos comerciais veiculados na TV entre os dias 27 de setembro e 12 de outubro tinham como público alvo as crianças. Observando o período da coleta de dados você pode pensar "sim, era véspera do dia das crianças". É verdade, sim, era véspera do dia das crianças...mas mesmo assim a quantidade de produtos e filmes para o público infantil tem aumentado cada vez mais, e na minha singela opinião, ainda vai aumentar bastante. As crianças hoje são consumidoras vorazes, mais rápidas e mais espertas do que as da minha geração. Aconteceram várias mudanças sociais que fomentaram a nova formatação da estrutura familar e do papel da escola da educação das crianças de hoje. Mas acredito não ser o momento de entrar na discussão, pelo menos aqui nesse post...

O monitoramento dos canais vai continuar até 2014 sendo feito pelo Observatório de Mídia da UFES e eu fico curiosa pra ver a evolução da pesquisa. Acessa o link pra ver a matéria completa publicada pela revista Crescer. Vamos ficar de olho nos resultados e com o cérebro criativo buscando estratégias mais adequadas e menos invasivas.  Ah, só mais alguns números trazidos pela pesquisa: Mattel fez quase 9 mil inserções, a Hasbro 6 mil e a Estrela 1.7000 - todas em 15 dias! 

Vamos pensar mais antes de fazer, né?
Bom findi.
Caroline 

Um comentário:

  1. Carol!
    Tu já viu um documentário chamado "Criança, a alma do negócio?" Vale a pena, e tem no youtube: http://www.youtube.com/watch?v=rNlIgEm_5U8

    bjo!

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